Cá, as festas foram boas, ou seja, foram mesmo deliciosas. Agora exibo a prova deste sucesso gastronómico com um traseiro ligeiramente alargado pela culinária do Grupo Central.
Não é mistério nenhum eu ter trazido uns quilinhos a mais para São Miguel: no Pico e no Faial, come-se mesmo bem. Nada de comida de plástico produzida em massa com aditivos impronunciáveis: muitos produtos regionais são produtos artesanais elaborados segundo receitas tradicionais. Sabem a carinho e a natureza.
A ilha do Pico parece um jardim gigante e está repleta de frutas até há sítios onde as laranjas apodrecem mesmo no chão, esquecidas. Nas Lajes do Pico, um comerciante local ficou surpreendido com o meu gosto pelos tamarillos - aliás tomates de árvore - da sua quinta. "Aqui, ninguém os quer", disse-me ele.
Na Inglaterra, onde vivi antes de chegar a Ponta Delgada, tamarillos são frutas exóticas, aliás caras. Lá também, lembro-me uma vez de ter pago uma pequena fortuna por uma fatia de queijo ilha branca da Graciosa: quis partilhar o sabor do arquipélago com os amigos e matar as saudades da minha terra adoptiva.
Nas Comunidades, os produtos dos Açores são muito procurados e acarinhados. José emigrou para o Canadá há 25 anos mas ainda se delicia com uma 'laranjada da terra´ cada vez que volta. Entretanto lá, a sua cunhada canadiana Vicki faz uma viagem de duas horas até a loja onde pode comprar manteiga açoriana.
Lá fora - quer em Londres, Toronto ou apenas Lisboa - os produtos açorianos chegam a ser considerados gourmet mas cá, muitas vezes já não passamos cartão a eles. Enquanto o movimento 'slow food' e os produtos naturais ganham popularidade em países já fartos de comida pré-preparada, mais açorianos optam pela obesidade de pacote promovida pelas refeições prontas e os estabelecimentos de restauração rápida.
Numa altura de crise, que tal nós por cá ajudarmos a nossa algibeira, a nossa saúde e a economia regional comendo o que é nosso? Além disso, lá fora, os tesouros culinários açorianos podem ser uma forma saborosa de colocar a região no mapa...
Kitty Bale é jornalista, bom garfo e encontra-se no meio do Atlântico, entre culturas - quazorean@gmail.com
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